Mostrando postagens com marcador Autores. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Autores. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Fahrenheit 451 - Distopia sobre ódio aos livros

[Fahrenheit 451 - Ray Bradbury]

Li este livro logo no início da quarentena.

É uma distopia que fala sobre o ódio aos livros. Ao conhecimento, claro.

“O crime não é ter livros, Montag, o crime é lê-los! Sim, é isso mesmo. Eu tenho livros, mas não os leio!”


A história é sobre bombeiros que ao invés de apagarem incêndios, os provocam. Sim, eles queimam o conhecimento, o saber.
“Deve haver alguma coisa nos livros, coisas que não podemos imaginar.”

É uma linguagem bem fluida, de narrativa bem simples, direta, mas nem por isso isenta de reflexões extremamente importantes e pertinentes. Enquanto o lia fiquei lembrando de outro livro – que não é distopia – “A menina que roubava livros”.

“Um livro é uma arma carregada na casa vizinha. Queime-o. Descarregue a arma. Façamos uma brecha no espírito do homem. Quem sabe quem poderia ser alvo do homem lido? Eu?”


Pois bem, como dizia, vale inúmeros questionamentos, análises e reflexões.
É daqueles livros que todos deveriam ler.

Bem, ao menos é o que eu acho. E tá tudo bem.

Ficou interessado em conhecer o livro? Ele está disponível na Amazon: Fahrenheit 451.
Link de afiliados.
***
Título: Fahrenheit 451
Autor: Ray Bradbury
Ano de publicação: 1953
Editora: Globo Livros
 
 

 



segunda-feira, 13 de julho de 2020

Minha querida Sputnik - Haruki Murakami [Resenha]

A primeira vez que li esse livro foi em 2013. Na época mantinha um blog e navegando pela internet li recomendação sobre o autor. Dentre vários títulos, escolhi esse para iniciar.
Reli-o, já que vou escrever sobre ele.


Arquivo pessoal

Lembro que em minha primeira leitura ao final fiquei, não sei se com reticências, ou interrogação. Acho que fiquei foi no vácuo.
Não falarei sobre isso porque não vou dar spoiler. Mas essa era a maior lembrança quando pensava nesse livro.

Nessa segunda leitura meu ritmo estava mais lento, o que permitiu-me atentar-me mais para os pormenores da obra, observar calmamente os sinais, embora essa seja uma leitura basicamente fluida, não sendo daquelas histórias maçantes que te exigem grandes esforços.
A não ser pelo fato de que, ao menos assim foi para mim, demorou um tempo para de fato engrenar, tendo acontecido lá pelo meio do livro. Fui arrastando a leitura; lembro que na primeira, várias vezes pensei em abandonar.
O que me fez insistir nessa história foi querer entender a correlação Sputnik e as personagens. E o que me levou à época dizer que gostei do livro foi justamente pelo impacto ao final.

Afora isso, é daquelas leituras que você pode fazer de forma descompromissada (e perder), ou pausada para ler seus pormenores.
Porque há livros que exigem de nós leitura vagarosa, que é para que se consiga compreender a narrativa (né, Dostoiévski! Ainda termino você!).

A história é sobre um triângulo afetivo (que se concretiza ou não, terá que ler para conferir!) narrada por K. amigo apaixonado por Sumire – aspirante a escritora -, que se apaixona por Miu, uma mulher casada e 17 anos mais velha.

Você não tem como saber se tudo o que K diz realmente aconteceu, ou o que de fato aconteceu, já que tudo é pelo seu olhar.
“É claro que esta história é sobre Sumire, não sobre mim. Porém, é através dos meus olhos que a história é contada”.
Ele mesmo nos alerta!

Murakami põe um quê de fantasia. Houve momentos em que fiquei sem saber se tudo não passava de um sonho das personagens. Ou se elas mesmas não eram fruto de uma história ficcional do narrador. Ficção dentro de ficção. Um realismo mágico, surrealismo. Sei lá. Posso estar viajando...

“Qualquer explicação ou lógica que explique tudo tão facilmente esconde uma armadilha. Falo por experiência própria. (...) O que quero dizer é que não tire conclusões precipitadas.”

Chamou-me a atenção a relação de Sumire com a figura da mãe, falecida quando era criança. Mas como não vou estender o texto a ponto de fazer uma análise crítica, paro por aqui.

K narra as histórias dentro da história. Há um tempo para cada uma das personagens. E há também passagens que me incomodaram bastante, a ponto de me deixar desconfortável.
Nem tudo me agradou. Mas não passei incólume por sua leitura.

“fiquei impressionada com a maneira como as coisas que vemos nem sempre são fieis à realidade”, já disse Miu.

Certamente ao lê-lo de forma mais atenta, talvez consiga se prender na escrita de Murakami. Assim foi para mim nessa releitura.


Afinal, “o que importa é ser atento. Permanecer calmo, alerta às coisas à sua volta”. Talvez isso ajude na leitura.
 
Ficou interessado em ler o livro? Está disponível na Amazon: Minha Querida Sputnik.
Link de afiliados.
*
*
Título: Minha querida Sputnik
Autor: Haruki Murakami

sábado, 8 de junho de 2019

Das incoerências...

“Sou uma céptica que crê em tudo, uma desiludida cheia de ilusões, uma revoltada que aceita, sorridente, todo o mal da vida, uma indiferente a transbordar de ternura. Grave e metódica até à mania, atenta a todas as subtilezas de um raciocínio claro e lúcido, não deixo, no entanto, de ser um D. Quixote fêmea a combater moinhos de vento, quimérica e fantástica, sempre enganada e sempre a pedir novas mentiras à vida, num dar de mim própria que não acaba, que não desfalece, que não cansa”.
 Florbela Espanca 
 

 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Sophia de Mello Breyner Andresen

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os Homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes...
e calma"

Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 14 de março de 2013

14 de março, dia Nacional da Poesia.




O poeta é um fingidor. 
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve, 
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Fernando Pessoa.


14 de março, dia da Poesia.


Imagem daqui.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Saudade, Silence, Mia Couto e Lucia Maria

Faz tempos que não apareço por aqui.
Faz tempos que rabisco nos rascunhos devaneios que não ouso publicar. 
Não por agora. 

Nem sempre é possível compartilhar nossos pensamentos, anseios, dúvidas, alegrias...
Mas essa semana eu não podia deixar de passar por aqui e registrar uma leitura e uma música que mexeram profundamente comigo.

Sincronicidades...



"A saudade é uma tatuagem na alma.
Só nos livramos dela perdendo um pedaço de nós."
Mia Couto









Leia, sinta, vivencie, seja lá o que for, tendo como fundo musical, Lucia Maria:







Saudades... dentre tantas coisas, da leitura e da escrita. Da poesia. Deste cantinho aqui...

sábado, 22 de outubro de 2011

Monteiro Lobato e o ato de escrever.

"Escrever é gravar reações psíquicas. O escritor funciona qual antena - e disso vem o valor da literatura. Por meio dela, fixam-se os aspectos da alma de um povo, ou, pelo menos, instantes da vida desse povo."
Monteiro Lobato, 1882-1948.

domingo, 23 de janeiro de 2011

De volta, depois de tanto tempo...

Faz tempos que não apareço por aqui!
Sinto falta de postar. Mas meu veio literário anda "ausente". Criatividade, zero.

Enquanto isso, aproveitei esse tempo para estudar o Tarot e resolver pendências que aparecem normalmente pela nossa vida.

Aproveitei também para ler um livro que já foi citado por aqui: A Trégua, de Mário Benedetti. Honestamente, esperava mais do livro. Fiquei depressiva durante a leitura, isso sim. Não quero desmerecer o trabalho do autor, nem tenho direito pra isso. Simplesmente não gostei do livro.

***
Espero que 2011 venha repleto de poesia, de cor, de perfume, de uma alegria contagiante, fazendo-nos a cada dia ter certeza de que tudo vale a pena.

Tudo de bom para nós!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010




"É que ela sentia falta de encontrar-se consigo mesma, e sofrer um pouco é um encontro."
Clarice Lispector.

domingo, 4 de julho de 2010

Divagações

"Você acha que vai crescer e que o mundo, enfim, deixará de ser assustador, que você vai ter mais controle, que vai, pelo menos, entender as cousas, aprender as regras. Mas não há regras, ou melhor, as poucas que existem mudam constantemente e eu me vejo como quando tinha seis anos, parada, de olhos arregalados, cara a cara com o imutável, o inexplicável, o assustador, balbuciando "... mas... mas... mas...". Que merda.

(AZEVEDO, Fal. Minúsculos Assassinatos e Alguns Copos de Leite. p. 34).


¬

Amei.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Olha, eu queria te dizer...






"- Olha, (...) eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme de todas essas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos (...)."


Caio Fernando Abreu




Imagem: art.com.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O Encanto da Lua Nova - Alonso Alvarez

Dia 17 deste mês tive a oportunidade de conhecer (virtualmente) o editor e autor Alonso Alvarez, quando adicionei no twitter a @FiccoesEditora. Ele gentilmente me presenteou com um exemplar de seu livro O Encanto da Lua Nova. Com direito a dedicatória! Claro que gostei, como podem imaginar. Ainda mais eu, que adoro ler. 


O livro chegou ontem e logo que pude me pus a aventurar-me na leitura. Infelizmente, devido às demandas pré-natalinas, não tive como finalizar ainda. Mas já posso adiantar: é um livro prazeroso de ler. É daqueles que quando você começa, não quer parar, e quando dá por si já percorreu bastante por seu universo. Universo este que ao longo da narrativa é construído em nossa imaginação. Sim, eu fiquei imaginando como seriam cada um dos personagens e confesso, cheguei a imaginar uma interpretação/encenação da história.


Eu, como educadora formada que sou (apesar de não mais trabalhar na área) ao ler o livro, uma das primeiras coisas que fiquei imaginando: meus alunos lendo-o. Sim, é um livro que certamente indicaria aos mesmos.


Quem quiser conferir mais sobre Alonso Alvarez e seu O Encanto da Lua Nova pode acessar o site http://www.oencantodaluanova.net.br . Ainda volto para comentar mais sobre o livro.


Título: O Encanto da Lua Nova
Autor: Alonso Alvarez

Da nunca imaginada aventura que viveram Turista e seus amigos ao encontrarem o 11º andar, que não existia no prédio, onde morava Annabel, a bela feiticeira, prisioneira de um encanto. 






E novamente, o meu muito obrigada ao Alonso Alvarez.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

E vivas ao livro!

Pois é... não me contive. Ontem fui ao centro da cidade e passando pela livraria Amadeu, eu precisei parar. Sim, para conferir os títulos que por lá estavam, pedindo para serem olhados, levados e lidos. (Irônica eu, não é mesmo?!).


Eis que não satisfeita com minhas aquisições já feitas este mês, tanto de livros quanto de Dvd's, eu trouxe O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago (sim, de novo ele) e O Desatino da Rapaziada - Jornalistas e Escritores em Minas Gerais, de Humberto Werneck.


Paralelamente à leitura de Fragmentos (Caio Fernando Abreu) me pus a ler o Evangelho. Sinceramente, apesar de já ter chegado lá pela página 70, até agora não estou gostando não. Engraçado que desde a época da faculdade ouvia falar bem deste livro. A professora de teoria da literatura então, era defensora ferrenha. Pode ser que ao longo de minha leitura eu vá me interessar. Por enquanto, não.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Terminada a leitura de Caim, de Saramago

Bom, na verdade não foi hoje, e sim dia 11 deste mês que terminei a leitura de Caim de Saramago. Não pretendo fazer nenhuma análise deste livro. Mesmo porque, ao começar a escrever este post eu não havia sequer pensado escrever além da data do término de minha leitura.


Uma coisa tenho que dizer: durou pouco mais de uma semana, mas porque intercalei com outras atividades. Se pegasse para ler direto, certamente em uns 2, 3 dias terminaria. No primeiro dia, de uma só vez li 50 páginas.


Bom, o livro é a história do Velho Testamento contada a partir da visão de Caim, aquele que matou o irmão Abel. Devem se lembrar, não é mesmo?


Há entre Caim e Deus uma certa discussão. A visão que nos é passada é a de um Deus que não corresponde a todas as bondades que as religiões nos apresentam. Quero, antes de continuar, ressaltar que não tenho intenção alguma em discutir religião, quem está certo ou errado.


Continuando... Caim questiona Deus a todo instante, como quando Deus pede a Abraão que sacrifique seu único filho. Para Caim, um verdadeiro Deus não pediria isso a nenhum mortal.


E assim decorre toda a história. Nos faz refletir sobre tudo o que aprendemos sobre Deus. Conforme já mencionei outras vezes no twitter, se você é um religioso fanático, não recomendo a leitura deste livro. Pois certamente se aborrecerá. Aos que gostam de questionamentos, penso que vale a pena. Mas não estou afirmando, de forma alguma, que os fatos discutidos são certos ou errados.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Novas aquisições...

Que eu gosto de ler, acho que já deu para perceber né? 


Hoje chegaram minhas mais novas aquisições: Caim, de José Saramago, e Fragmentos, de Caio Fernando Abreu. Assim que terminar minhas leituras, volto aqui para compartilhar minhas impressões.


Ah! quanto ao livro do Augusto Cury eu ainda não terminei a leitura. Pois é, terei na verdade que recomeçá-la. E quanto ao Machado, já terminei - foi a segunda vez que li Dom Casmurro -, e o que vou dizer não difere do que tantos já escreveram por aí: não, eu não tenho certeza quanto à fidelidade de Capitu.


Até breve... 

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Ainda Clarice...

Na revista Bravo! deste mês há um texto sobre Clarice - Infelicidade Inspiradora. Sincronicidades à parte, serviu para clarear para mim, minhas conclusões sobre O Lustre.

Leia o texto de José Castello. Vale a pena.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O Lustre - Reflexões

Terminei finalmente, a leitura do livro O Lustre, de Clarice Lispector.


Antes de mais nada, quero deixar claro que não pretendo fazer aqui uma análise crítica do mesmo, apenas relatar algumas das impressões que tive. Aproveito para comentar que este simplório blog recebeu algumas visitas em decorrência dos trechos que transcrevi. Espero que tenham gostado.

Gosto do jeito como Clarice escreve. Mas não conhecia, até então, a presente obra. Li em um site uma opinião positiva e resolvi lê-lo.

A princípio empolguei-me na leitura. Mas num dado momento não consegui manter mais um ritmo freqüente de leitura. Talvez porque a forma densa como a vida da personagem principal, Virgínia, é narrada...

Bem, a narração é sobre sua vida exterior e interior. Seus anseios, suas angústias, suas inquietações. Exterior no sentido que remete às suas relações e acontecimentos. Interior no sentido do que pensa, sente.

É uma narrativa penetrante, mas ao mesmo tempo angustiante. Vai desde a infância até a sua vida adulta. E... bem, não conto o final, porque perde a graça.

Clarice consegue fazer com que nos envolvamos com as reflexões de Virgínia. E estas não são sempre leves. Trazem consigo o que a alma anseia expressar. E muitas vezes é uma “expressão carregada”, forte, densa. Chega a incomodar. Acho que isso explica claramente como me senti, não somente ao longo da narrativa, mas principalmente pelo final. É como um “tapa na cara”; um choque. A primeira coisa a se pensar é algo como “a vida é tão efêmera; tão simples, vã; forte, pesada...”

É um romance que merece uma análise aprofundada. Diria que no mínimo duas leituras se fazem necessárias. A primeira para ter uma noção da narrativa; a segunda para compreender. É carregada de simbolismos: chapéu, mar, o próprio lustre. A relação que possui com o irmão Daniel.

Enfim, é um livro pelo qual não se consegue passar incólume.

sábado, 24 de outubro de 2009

De se emocionar

Sempre me emociono. Choro. Sou uma chorona assumida, uma sensível contumaz.

Mas gosto de ser assim. Prefiro ser assim.



“Mire, veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou.”
João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas

Guimarães Rosa abraçando a mãe, Chiquitita, e a filha Vilma
 


Imagem daqui.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Trecho do livro O Lustre, Clarice Lispector

Clarice Lispector, in: O Lustre

“Sabia de um modo vago que já vivera alguma vez ultrapassando os momentos numa cegueira feliz que lhe dava o poder de seguir a sombra de um pensamento através de um dia, de uma semana, de um ano. E isso misteriosamente era viver se aperfeiçoando na obscuridade sem obter um fruto sequer dessa imponderável perfeição.

(...)

Tinha a impressão de que já vivera tudo apesar de não poder dizer em que momentos. E ao mesmo tempo sua vida inteira parecia poder resumir-se num pequeno gesto para frente, numa ligeira audácia e depois num recuo suave sem dor, e nenhum caminho então para onde se dirigir – sem pousar direito no solo, suspensa na atmosfera quase sem conforto, quase confortável, com a languidez cansada que precede o sono. No entanto ao seu redor as coisas viviam por vezes tão violentas. O sol era fogo, a terra sólida e possível, plantas brotavam vivas, trêmulas, caprichosas, casas eram feitas para nelas se abrigarem corpos, braços, contornavam-se ao redor de cinturas, para cada ser e para cada coisa havia um outro ser e uma outra coisa numa união que era um fim ardente sem além.”


Imagem daqui.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Viagem para Fora

(Thiago Solito da Cruz, inédito)

Há não tanto tempo assim, uma viagem de ônibus, sobretudo quando noturna, era a oportunidade para um passageiro ficar com o nariz na janela e, mesmo vendo pouco, ou nada, entreter-se com algumas luzes, talvez a lua, e certamente com os próprios pensamentos. A escuridão e o silêncio no interior do ônibus propiciavam um pequeno devaneio, a memória de alguma cena longínqua, uma reflexão qualquer.

Nos dias de hoje as pessoas não parecem dispostas a esse exercício mínimo de solidão. Não sei se a temem: sei que há dispositivos de toda espécie para não deixar um passageiro entregar-se ao curso das idéias e da imaginação pessoal. Há sempre um filme passando nos três ou quatro monitores de TV, estrategicamente dispostos no corredor. Em geral, é um filme ritmado pelo som de tiros, gritos, explosões. É também bastante possível que seu vizinho de poltrona prefira não assistir ao filme e deixar-se embalar pela música altíssima de seu fone de ouvido, que você também ouvirá, traduzida num chiado interminável, com direito a batidas mecânicas de algum sucesso pop. Inevitável, também, acompanhar a variedade dos toques personalizados dos celulares, que vão do latido de um cachorro à versão eletrônica de uma abertura sinfônica de Mozart. Claro que você também se inteirará dos detalhes da vida doméstica de muita gente: a senhora da frente pergunta pelo cardápio do jantar que a espera, enquanto o senhor logo atrás de você lamenta não ter incluído certos dados em seu último relatório. Quando o ônibus chega, enfim, ao destino, você desce tomado por um inexplicável cansaço.

Acho interessantes todas as conquistas da tecnologia da mídia moderna, mas prefiro desfrutar de uma a cada vez, e em momentos que eu escolho. Mas parece que a maioria das pessoas entrega-se gozosa e voluptuosamente a uma sobrecarga de estímulos áudio-visuais, evitando o rumo dos mudos pensamentos e das imagens internas, sem luz. Ninguém mais gosta de ficar, por um tempo mínimo que seja, metido no seu canto, entretido consigo mesmo? Por que se deleitam todos com tantas engenhocas eletrônicas, numa viagem que poderia propiciar o prazer de uma pequena incursão íntima? Fica a impressão de que a vida interior das pessoas vem-se reduzindo na mesma proporção em que se expandem os recursos eletrônicos.

Imagem daqui.